domingo, 17 de agosto de 2014

tradução - e.e.cummings - a função do amor é inventar desconhecimento

a função do amor é inventar desconhecimento

(sendo sem desejo o que se conhece;e o amor sendo todo desejo)
ainda que viva-se a vida do avesso,o tal-qual sufoca o sem-igual
a verdade se troca por fato,os peixes se gabam da pesca

e o homem é presa de vermes(o amor talvez não se importe
se o tempo vacila, se a luz se decai, medidas se torcem
nem se encante se um pensamento pesa uma estrela
os medos morrem por último,e menos,quando a morte termina)

que sorte têm os amantes(que são servos
do que ainda está por ser descoberto)
cuja incultura,ao respirar,ousa esconder
mais que a mais fabulosa sapiência teme ver

(que riem e choram)que sonham,criam e matam
enquanto o mundo se move;e nenhuma peça sai do lugar:

___________________

original:

love's function is to fabricate unknownness

(known being wishless;but love,all of wishing)
though life's lived wrongsideout,sameness chokes oneness
truth is confused with fact,fish boast of fishing

and men are caught by worms(love may not care
if time totters,light droops,all measures bend
nor marvel if a thought should weigh a star
—dreads dying least;and less,that death should end)

how lucky lovers are(whose selves abide
under whatever shall discovered be)
whose ignorant each breathing dares to hide
more than most fabulous wisdom fears to see

(who laugh and cry)who dream,create and kill
while the world moves;and every part stands still:

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Veredas que se bifurcam: os labirintos do tempo em Ana Cristina Cesar

 A chamada "geração marginal" é, em essência, o que Heloísa Hollanda1 chama de um "surto de poesia" que acometeu o país nos anos 70. Ana Cristina Cesar é taxonomicamente classificada como parte desta geração, mas a verdade é que ela entra posteriormente, tardiamente, como um ponto fora da curva. Os marginais, de modo geral, tentavam reproduzir a experiência imediata, a fragmentariedade da realidade em seus poemas. Mas Ana C. sabe que o real é uma impossibilidade. A experiência pura, sem mediação, é impossível, estaremos sempre sujeitos, no mínimo, ao filtro da cultura, do zeitgeist, e o registro dela ainda é outra mediação, que passa pelo filtro da linguagem. Diante da impossibilidade do real, a autora sai de cena e cria um universo artificial. Sua poesia é um construto.