Imagine a vida sem desconforto. A vida sem sol demais, sem calor, sem
suor grudando na pele, sem pelos colados no corpo. Sem frio, sem
blusas de lã que incomodam, sem o ar congelante que irrita o nariz.
Sem secura demais, sem umidade sufocante, um ar condicionado
perfeitamente regulado à volta de si o tempo todo.
Imagine a vida sem cansaço. Sem costas doloridas ao fim do dia, sem
as pontadas no peito que você sentiu ao correr atrás do ônibus.
Imagine a vida sem correr atrás do ônibus. A vida sem ônibus, sem
jamais ter que pegar ônibus, sem ter que suar o suor alheio, a
promiscuidade imunda dos ônibus.
Imagine a vida sem dor - sem tropeçar na calçada, bater o dedinho,
perder a unha. A vida sem nunca esfolar os joelhos quando criança,
sem cair de cara e perder dois dentinhos de leite. Imagine a vida sem
jamais ter quebrado o braço, sem ter o gesso (quente, coçando)
assinado pelos colegas de classe. A vida sem uma nota baixa, sem
reprovação no vestibular, sem esperar inutilmente pela resposta de
uma entrevista de emprego. Viver sem ter que bater ponto.
Imagine a vida sem resfriados. A vida da varíola erradicada, do
sarampo quase extinto, uma vida sem viroses enigmáticas, sem
conjuntivites purulentas. A vida sem diagnósticos de câncer, sem
doenças sem cura, sem agonias prolongadas ou súbitas demais.
Imagine a vida sem jamais perder quem se ama antes do tempo.
Imagine a vida sem decepção, sem frustração, sem desilusão, sem
dor. Imagine a vida sem amor.
o amor é carente, então carrega a frustração a tiracolo. desistir do amor dói mais que sofrer por amor.
ResponderExcluirTentei, mas não, não imagino. E não correr atrás de ônibus não seria uma vida, e sim um paraíso.. hahahahaha
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